A importância das adequações em uma área classificada

Por: Alessandra Renata Junk

Instalações elétricas em áreas classificadas devem obedecer requisitos apropriados para instalações em áreas não classificadas, como as prescrições na ABNT NBR 5410 – Instalações Elétricas de Baixa Tensão, entre outras. Entretanto, como os requisitos para áreas não classificadas são insuficientes para instalação em áreas classificadas, essas instalações devem seguir as normas de instalação EX, como a NBR IEC 60079-14 – Instalações elétricas em áreas classificadas (exceto minas) e a IEC 61241-14 – Equipamentos elétricos para utilização em presença de poeira combustível – seleção e instalação.

Para iniciarmos um processo de adequação das instalações elétricas e de automação de uma unidade industrial classificada, é preciso ter em mãos o Trabalho de Classificação de áreas, segundo a NBR IEC 60079-10, para conhecer os tipos de áreas, os zoneamentos, os grupo de gases e temperaturas de autoignição dos produtos presentes nas áreas.

A inspeção deve ser baseada na NBR IEC 60079-17, que trata do detalhamento das não conformidades e dos equipamentos empregados. Por meio desse documento, é possível verificar se a instalação foi executada de forma adequada e se os equipamentos estão de acordo com o tipo de zoneamento – Zona 0, Zona 1 e Zona 2, referente a produtos inflamáveis, ou Zona 20, Zona 21 e Zona 22, referentes a poeiras combustíveis

Apenas com a classificação de áreas e com a inspeção em mãos, é possível iniciar o processo de adequação das não conformidades nas instalações em áreas classificadas.

Em primeiro lugar, para se fazer um bom trabalho de adequação, é necessário especificar os equipamentos com tipos e níveis de proteções específicas para se trabalhar em área classificada. Há muitos tipos de proteção de equipamentos elétricos e eletrônicos “Ex” certificados para determinado tipo de zona: Ex-d, à prova de explosão; Ex-e, segurança aumentada; Ex-p, pressurizado; Ex-i, segurança intrínseca; Ex-n, não acendível; Ex-o, imerso em óleo; Ex-m, encapsulado, Ex-q, imerso em areia. Por isso, é necessária a especificação correta do equipamento para a área a ser instalada, assim como os níveis de proteção Ga, Gb, Gc, Da, Db e Dc.

Com a classificação de áreas, é possível conhecer o grupo de gases e a temperatura de autoignição, itens importantes para se especificar os equipamentos adequados, os quais possuem certificação compulsória. Além disso, no laudo de inspeção das instalações, obtemos as não conformidades quanto às áreas classificadas, ou seja, os itens referentes à falta de equipamento adequado, equipamentos Ex inadequados ao tipo de zoneamento, classe de temperatura imprópria e instalação inadequada.

As correções são iniciadas com a aquisição de equipamento correto e certificado e também com a execução de uma instalação adequada. Existem muitos casos em que a empresa adquire o equipamento correto, porém, nota-se sua instalação inadequada, colocando a área em condições inseguras e em desacordo com as normas.

Um relatório de “não conformidades” traz detalhes sobre as irregularidades, assim como respectivas soluções para tais problemas. Entre os mais comuns estão:
– Falta de selagem de motores, painéis, luminárias;
– Selagem na distância errada, exigida pela norma;
– Tipo de massa e selagem inadequadas;
– Equipamento inadequado à classificação de áreas, na especificação dos tipos de zonas, grupo de gases, temperatura de autoignição; sejam eles painéis, instrumentos, motores, etc., que poderão ser realocados ou substituídos;
– Falta de parafusos nos painéis e em caixas de ligação de motores;
– Pintura e silicone no interstício das caixas;
– Prensa-cabos inadequados ao invólucro;
– Falta de unidade seladora de fronteira entre as zonas 1 e 2, bem como zona 2 e área não classificada.
– Circuito intrínseco inadequado.

Com base nas informações disponibilizadas pelo relatório, é iniciada a regularização da instalação, especificando, primeiro, os equipamentos a serem substituídos de acordo com os tipos de zoneamento – 0, 1 e 2 (gases) e 20, 21 e 22 (poeiras combustíveis), segundo a classificação. Deve-se tomar cuidado com a especificação, pois não basta somente indicar, como ”luminária à prova de explosão com lâmpada mista 160 W”. Isto não é suficiente, pois pode se achar que está comprando o equipamento correto, mas não há informações corretas sobre a área que consta no trabalho de classificação de áreas. Deve-se atentar às normas dos diversos tipos de proteção Ex, conforme as normas específicas (tabela a seguir), e ao certificado de conformidade obrigatório.

Um bom trabalho de adequação das instalações elétricas em áreas classificadas depende de conhecimento, experiência e emprego das normas já citadas. Vejamos, a seguir, alguns critérios, definidos pelas normas, que devem ser obedecidos.

Instalações com eletrodutos

Os eletrodutos devem ser de aço, classe pesada, roscados, com ou sem costura, atendendo à ABNT NBR 5597. O eletroduto deve dispor de, no mínimo, cinco fios de rosca para permitir uma conexão adequada entre o eletroduto e o invólucro à prova de explosão.

Como utilizar unidade seladora?
Unidades seladoras Ex-d devem ser instaladas no invólucro, na parede do invólucro ou o mais próximo possível dele, de forma a limitar os efeitos de pré-compressão e evitar a entrada de gases quentes no sistema de eletrodutos a partir de um invólucro contendo uma fonte de ignição. Ela deve ser selada com fibra e massa certificada.

Unidades seladoras também devem ser instaladas de acordo com os critérios da fronteira entre zonas 1 e 2 e zonas 2 e área classificada.

Instalação feita com eletrodutos

Instalações com cabos

Os sistemas de cabos e acessórios devem ser instalados, tanto quanto possível, em locais que não sejam expostos a danos mecânicos, à corrosão ou influências químicas (por exemplo, solventes) e aos efeitos do calor. Quando a exposição desses sistemas a efeitos dessa natureza for inevitável, medidas de proteção, como instalação em eletrodutos parciais, devem ser tomadas ou devem ser especificados cabos apropriados. Para minimizar o risco de danos mecânicos, por exemplo, devem ser utilizados cabos armados, com proteção metálica, com cobertura de alumínio sem costura, com cobertura de metal e com isolação mineral ou cabos com coberturas semirrígidas.

A conexão de cabos aos equipamentos elétricos deve ser feita de acordo com os requisitos do respectivo tipo de proteção. Se o equipamento for Ex-d, o prensa cabo deverá ser do mesmo tipo, como também se o prensa cabo for Ex-e, o prensa cabo deverá ser do mesmo tipo.

Instalação feita com a utilização de cabos

Instalação de circuitos intrinsecamente seguros

Uma filosofia de instalação fundamentalmente diferente deve ser feita nas instalações de circuitos intrinsecamente seguros. Em comparação com todos os outros tipos de instalações, em que é tomado o devido cuidado para confinar a energia elétrica no sistema instalado, projetado de forma que uma área classificada não possa ser inflamada, a integridade de um circuito intrinsecamente seguro deve ser protegido desde a entrada de energia de outras fontes elétricas, de forma que a limitação de energia segura no circuito não seja excedida, mesmo quando ocorram aberturas de circuitos, curtos-circuitos ou ligação à terra do circuito.

As instalações com circuitos intrinsecamente seguros devem ser instaladas de tal modo que sua segurança intrínseca não seja afetada por campos elétricos e magnéticos externos, tais como a proximidade de linhas aéreas de potência ou cabos unipolares conduzindo elevada corrente.

Os cabos contendo circuitos intrinsecamente seguros devem ser marcados para identificá-los como parte de um circuito de segurança intrínseca. Se revestimentos ou capas forem identificados por uma cor, esta deve ser azul-claro.

Toda essa exigência é oriunda da nova versão da NR 10, que está obrigando as empresas a adequarem todas as instalações elétricas na unidade, incluindo principalmente as instalações elétricas nas áreas com risco de explosão para prover segurança aos trabalhadores e também ao patrimônio.

Anteriormente, não havia uma lei que estabelecesse esse compromisso, mas o item 10.9.4 da NR 10 é claro: “instalações elétricas de áreas classificadas ou sujeitas a risco acentuado de incêndio ou explosões devem adotar dispositivos de proteção, como alarme e seccionamento automático, para prevenir sobretensões, sobrecorrentes, falhas de isolamento, aquecimentos ou outras condições anormais de operação”.

Em suma, como é um assunto que demanda conhecimento de normas e técnicas, o projeto e a montagem das instalações abrangidas pela NR 10 serão conduzidos apenas por profissionais autorizados, com treinamentos que ofereçam informações sobre os diversos tipos de proteção Ex, práticas de instalação, normas, requisitos legais e princípios gerais de classificação de áreas. A autorização do profissional deve ser específica para o tipo de trabalho a ser executado, conforme exigido pela norma regulamentadora.

Por isso, está em andamento o projeto da norma “Competências para trabalhos com equipamentos elétricos para atmosferas explosivas”, de acordo com o documento ExMC/296/CD – “Competencies for working with electrical equipment for hazardous áreas”, para certificação de profissionais Ex. O documento está sendo elaborado pela Comissão de Estudo de Requisitos de Instalação em Atmosferas Explosivas (CE-03:031.01) e inclui terminologia, dados de gases e vapores inflamáveis, competências para trabalhos em equipamentos para atmosferas explosivas, procedimentos de classificação de áreas, instalação, inspeção, manutenção, reparo, revisão e recuperação de equipamentos elétricos utilizados em atmosferas explosivas.

Como já mencionado, o processo de regularização de instalações elétricas em áreas classificadas é algo muito importante para nossas unidades industriais no tocante à segurança e à preservação do patrimônio. Ao regularizar a planta, é preciso ficar atento às normas de instalação por eletrodutos ou por cabos, circuitos intrínsecos, entre outros.

No que diz respeito a equipamentos elétricos Ex, no processo de regularização de nossa unidade, devemos ter cuidado na especificação e na compra destes equipamentos, pois somente é possível aceitá-los com o “Certificado de Conformidade” emitido pelos Organismos de Certificação de Produto (OCPs), órgãos acreditados pelo Inmetro.

De nada adianta fazer a instalação correta se forem empregados equipamentos sem certificação, compulsória desde 2006, por meio da Portaria do Inmetro n. 83/2006. Vale lembrar que, em breve, será publicada a nova portaria do Inmetro que torna compulsória a certificação de equipamentos para poeiras combustíveis.

No equipamento Ex, devemos observar as seguintes marcações:

Selo de certificação do Inmetro

Todos os equipamentos elétricos certificados possuem uma marcação que foi concedida no processo de certificação e que obedece a um lay-out predefinido, de forma que se possa verificar se as informações ali contidas correspondem ao que foi solicitado.

Na marcação do equipamento Ex deve constar o símbolo BR-Ex, o tipo de proteção, o grupo de periculosidade do equipamento, a classe de temperatura e a temperatura máxima de superfície, além de outras identificações adicionais exigidas pela norma específica para o respectivo tipo de proteção e o número do certificado.

Finalmente, conhecido o processo de regularização e aplicados os tipos de proteção adequados, as filosofias de instalação certas, os materiais certificados, e executadas as adequações necessárias com profissionais qualificados, o último passo é o Laudo Final das Instalações Elétricas em Áreas Classificadas (LFIE-Ex). Como fazer isto? É preciso solicitar à empresa que fez a inspeção das áreas e que emitiu o relatório de “não conformidades” para verificar se essas “não conformidades” foram sanadas para então dar prosseguimento à emissão desse documento.

De posse deste laudo, se faz necessário ainda verificar se as áreas classificadas foram sinalizadas em campo, conforme símbolo a seguir.

Símbolo de sinalização de áreas classificadas

Como complemento final, exigido pela NR 10, é necessário treinar os profissionais que trabalharão nessas áreas Ex, sejam eles operadores, engenheiros de processos, químicos, mecânicos, técnicos e engenheiros de segurança, capacitando-os em áreas classificadas, no qual obterão conhecimentos gerais dessas áreas, tipos de proteção, níveis de proteção e os riscos envolvidos.

Os engenheiros eletricistas, eletricistas, instrumentistas, eletrônicos e todos os profissionais que participam da montagem, operação, calibração ou manutenção dos sistemas eletro-eletrônicos deverão ser qualificados em áreas classificadas, obtendo conhecimentos gerais de classificação de áreas, tipos de proteção detalhados, tipos de instalações permitidas pelas normas de instalação e riscos envolvidos.

Para dar a devida seriedade a este processo de treinamento, que envolve capacitação e qualificação dos profissionais, as empresas deverão fazer a devida regularização para a obtenção do certificado das instalações elétricas em áreas classificadas, parte do Prontuário da NR 10, juntamente com o estudo de classificação de áreas.

Alessandra Renata Junk é engenheira eletricista, sócia da Maex Engenharia, membro do Comitê Brasileiro de Eletricidade, Eletrônica, Iluminação e Telecomunicações (Cobei) e da Associação Brasileira para Prevenção de Explosões (ABPEX).